A fim de analisar a ligação entre Macau e o resto do mundo e a influência marítima em Macau, realizou-se o Colóquio Internacional “China/Macau, Conexões Marítimas Globais” que teve lugar entre 15 e 17 de Outubro em Lisboa. Este evento foi organizado em conjunto pela Fundação Macau, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) subordinado ao Ministério da Educação e Ciência de Portugal e o Centro de História da Universidade de Lisboa e cerca de vinte académicos provenientes da Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Reino Unido, Portugal e dos Territórios de Hong Kong e Macau apresentaram as suas comunicações e dialogaram acerca das plataformas marítimas, produtos e tecnologia, língua e informação, e também dos estudos e opiniões sobre a “Rota Marítima da Seda”.
O mundo ligado pelo mar
A cerimónia de abertura do Colóquio teve lugar na manhã do dia 15 de Outubro no CCCM em Lisboa e foi presidida pelo seu Director, Dr. Luís Filipe Barreto, e o Director do Centro de História da Universidade de Lisboa, Dr. Hermenegildo Fernandes. O Dr. Barreto referiu no seu discurso que “a China/Macau têm uma relação muito estreita com a cultura marítima, pois o mundo é ligado pelo mar, e na História da China os estudos sobre o sector marítimo ainda têm muito para se desenvolverem, e as relações entre os países banhados pelo Oceano Índico e o Oceano Atlântico também têm grande espaço para serem pesquisados. O mais importante é a investigação das características próprias, ou seja, procurar o respeito e o entendimento entre as diferentes culturas”. Manifestou o seu prazer em continuar a colaborar com a Fundação Macau e a poder convidar académicos e excelentes historiadores de diversos lugares do mundo para promover os estudos sobre a China/Macau e a relação europeia-asiática, bem como a sua satisfação pessoal com os resultados frutíferos obtidos.
Influência da China na área marítima
O Colóquio decorreu em 6 sessões, os académicos de diversos países debateram o desenvolvimento e a influência da China a partir de ponto de vista de transferência de tecnologia e da política, religião, medicina, direito, espaço geográfico, relações internacionais, entre outros. Zheng Yangwen, da Faculdade da História da China da Universidade de Manchester, disse que “desde o tempo da Dinastia Meng a China tem uma importância incalculável, não só em termos de transmissão da religião como do comércio de mercadorias por via marítima, e agora está na altura de tornar a história marítima da China, tema que tem se encontrado desde muito tempo à margem dos estudos na China, como um dos temas principais de investigação”. José Miguel Pinto dos Santos, académico português, entende que “com a chegada dos portugueses ao Japão em 1543 foram introduzidas e aplicadas as técnicas práticas, que já vinham do conhecimento europeu, na vida da população japonesa, nomeadamente nas áreas de pintura, cartografia, música, medicina entre outras”. François Gipouloux, do Centro Nacional do Estudo Científico da França, abordou o tema “brokers and guilds in late Imperial China’s maritime trade” e concluiu que no final da dinastia Ming, na consequência da prosperidade do comércio e da economia na China, havia uma ligação estreita entre os produtores e o mercado, entre vendedores e compradores, e para garantir o negócio e evitar o risco surgiram as empresas de corretagem e as associações de indústrias que desempenhavam um papel importante no comércio marítimo da China”.
Os discursos promoveram várias trocas de impressões entre os académicos sobre o estudo da história marítima da China.
Macau e a civilização marítima
A natureza da civilização marítima é essencialmente inclusiva, aberta, fluente e pluralista e exerceu uma influência profunda em Macau, de forma a construir uma rica conotação cultural que influenciou a formação das características humanas da cidade de Macau. Neste Colóquio, vários académicos fizeram uma investigação aprofundada sobre Macau, nomedamente sobre os temas: “Recursos medicinais chineses em Macau no Século XIX – Atitude chinesa perante a medicina ocidental” de Wu Yuxian da Universidade da Cidade de Macau; “Civilização Marítima e os impactos na herança dos documentos religiosos em Macau” de Helen Ieong da Fundação Macau; “O papel de Macau e Manila nas comunicações inquisitoriais através dos mares pacíficos ocidentais: conexões regionais e navegação transoceânica nas relações entre as Inquisições de Goa e do México (1643-1691)” de Miguel Rodrigues Lourenço do Centro de Humanidades da Universidade Nova da Lisboa; “Macau, Makassar e Timor: os caminhos do comércio de sândalo no século XVII” de Jorge Semedo de Matos; “A produção e circulação de notícias sobre a Ásia Oriental entre Macau e Manila” de Rui Manuel Loureiro do Centro de Humanidades da Universidade Nova da Lisboa; “Os jesuítas em Macau e o direito canónico romano em defesa da posição do Imperador Qing (Macau, 1684)” de Noël Golvers de Ferdinand Verbiest Institute de Katholieke Universiteit Leuven, e “Diferentes tipos de escravatura em Macau durante as dinastias Ming e Qing” de Cai Jiehua do Institut für Sinologie - Ludwig-Maximilians da Universität München. Os participantes envolveram-a em discussões animadas sobre os respectivos temas e concluíram que a investigação ajuda a promover a cooperação e os intercâmbios entre Macau e a Europa.
Estabelecimento da plataforma académica internacional
Foi lançado no Colóquio a nova edição duma compilação das comunicações anteriores e foi inaugurada a exposição “Recomeçar”. Wu Zhiliang, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Macau, manifestou que “desde 2012 a FM tem colaborado com o CCCM para organizar colóquios académicos internacionais sobre a História e a Cultura de Macau, desenvolvendo os temas das relações entre Macau e os países ocidentais no período em que se iniciaram; o processo de globalização; a tradução e interpretação; a cartografia e circulação; as rotas marítimos e os oceanos, etc. fazendo com que Macau se transforme numa plataforma importante para os historiadores famosos de diversos partes do mundo poderem investigar a História e Cultura da China e de Macau. Os respectivos trabalhos têm vindo a ser publicados”. Enfatizou, ainda, que este projecto ajuda a consolidar a ponte cultural existente entre a China e Portugal e promove o intercâmbio académico internacional.
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