A Orquestra de Macau toca duas apaixonantes obras do lírico Johannes Brahms (1833-1897) no dia 28 de Julho no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau. Um novo prodígio chinês, o pianista Shen Wenyu, junta-se à orquestra para tocar um dos mais populares concertos para piano da era romântica, o Concerto para Piano e Orquestra em Lá menor, op. 54, de Robert Schumann (1810-1856). É com a Abertura “Trágica”, op. 81, de Brahms que arranca o sétimo concerto do Ciclo Clássicos Românticos da Orquestra de Macau. Embora Brahms pareça não ter tido em mente qualquer drama em particular, o título da Abertura adequa-se perfeitamente ao seu carácter. Escrita na tonalidade “trágica” de Ré menor, esta peça é na forma-sonata com um fugato na secção de desenvolvimento. O seu início abrupto estabelece uma sensação de instabilidade. A secção de abertura é inquietante em toda a sua extensão, acalmando ligeiramente antes dos trombones anunciarem uma frase de transição tranquila e misteriosa. O segundo tema é uma melodia apaixonada tocada pelas cordas, a qual alterna entre os modos maior e menor e se torna mais e mais agitada até ao surgimento do mote de abertura, primeiro violentamente na orquestra inteira e a seguir num apreensivo eco em pizzicato nas cordas. A segunda obra a dourar o programa de “Paixão Sonhadora”, é o famoso Concerto para Piano e Orquestra em Lá menor, op. 54, o único concerto para piano completo de Robert Schumann. Foi escrito em 1841, logo após o casamento do compositor com a famosa pianista Clara Wieck, que viria a estreá-lo com a Leipzig Gewandhaus Orchester no dia de Ano Novo em 1846. Tornou-se numa parte importante do seu repertório de concerto. O primeiro andamento, Allegro affettuoso, é de facto uma fantasia. Inicia-se com um floreado colorido do piano que estabelece a proeminência do solo de piano e continua com um lamentoso motivo descendente de quatro-notas que liga todos os três andamentos. A textura é uma tapeçaria de brilhante e interminável filigrana pianístico, tecida com os fortes elementos melódicos que emergem periodicamente em outros instrumentos. Esta obra dá largas ao talento lírico e romântico de Schumann que, simultaneamente, constrói uma grande estrutura. O jovem pianista Shen Wenyu, que venceu o Concurso Internacional de Piano Rachmaninov em 2005, sola nesta peça dando a conhecer o seu talento que tem merecido o aplauso do público chinês e internacional. É com a Quarta Sinfonia de Brahms que a Orquestra de Macau, liderada pelo maestro En Shao, põe um ponto final nesta “Paixão Sonhadora”. É universalmente reconhecida como a mais individual das composições de Brahms e constitui a magnífica coroação do ciclo das quatro sinfonias do compositor. A secção de abertura é uma das passagens mais inspiradas e conhecidas de Brahms, plena de mistério e lirismo. O segundo andamento, Andante moderato, apresenta um tema duplo mais claro, enquanto que o terceiro, Allegro giocoso, adopta uma espécie de forma rondó-sonata, preservando o carácter terreno e ligeiro do scherzo. Toda a sinfonia se desloca para o sumptuoso finale, uma série de variações sobre um tema apresentado nos primeiros oito compassos. A música torna-se cada vez mais héctica e a Sinfonia N.o 4 em Mi menor, op. 98 encerra com uma conclusão trágica.